Deus criara a terra, o mar, o céu, os animais bons e os
animais maus para o homem. Por fim, criou os escorpiões, ignorando se iriam ser
bons ou maus. Para o saber, decidiu pô-los à prova.
– De momento, a minha Terra é pobre – disse Deus aos dois
escorpiões, um preto e outro amarelo. – Preciso de riqueza para os homens, para
eles construírem casas, hospitais, escolas, e tudo aquilo que me pedem para
poderem viver e educar os filhos. Vou, portanto, confiar-vos uma missão: ides
buscar pedras preciosas que haveis de encontrar no deserto. Estão enterradas
muito fundo, mas as vossas tenazes pinças irão ajudar a encontrá-las.
– E Deus olhou-os nos olhos:
– Estas riquezas são muito úteis aos homens. Por esse
trabalho, darei a cada um de vós três pedras preciosas. – E Deus franziu o
sobrolho:
– É um trabalho longo e difícil, e certamente sereis tentados a ficar com as pedras para vós. Mas, se mentirdes, serão severamente castigados.
Partiram então os dois escorpiões, depois de terem jurado que
entregariam, para o bem comum, mesmo a mais pequenina pedra encontrada pelo
caminho.
Recolher tesouros para dar ao Estado, para o bem de todos os
homens, não é o mesmo que juntar riqueza para si próprio. É preciso lutar
contra o desejo de guardar tudo para si.
Os escorpiões partiram imediatamente, tendo de enfrentar o
calor, o vento, a areia, enterrando o aguilhão bem fundo nas dunas, nas ondas
de areia, onde, se procurar com muita atenção, se encontram rubis, safiras,
diamantes facetados.
Sabe-se que os desertos se encontram cheios de riquezas
escondidas: pedras preciosas, moedas de ouro, ou outra coisa qualquer. Também
se sabe que é durante a noite, quando toda a gente está a dormir e nos sentimos
sós, que temos a hipótese de as encontrar. É que as riquezas estão muitas vezes
enterradas, longe dos olhares, o que torna o trabalho dos pesquisadores de ouro cansativo, esgotante, com 50ºC de dia e 20ºC à noite, sem
uma gota de água para mergulhar o aguilhão. Mas, se não fosse cansativo, não se
chamaria ‘tesouro’, não é verdade?
O escorpião negro procurou, procurou e não desistiu de
procurar… Como era ativo e astuto, já tinha encontrado cem diamantes,
seiscentas esmeraldas, trezentas safiras e um número sem-conta de rubis. A meio
do caminho, por causa da fadiga, assaltou-o um mau pensamento:
“Tanto trabalho! E para receber o quê? Um simples
diamantezito, um quarto de unha de rubi, uma magra esmeralda, uma safira de
nada? Mas, se eu guardar as pedras melhores para mim, serei o animal mais rico
e poderoso da Terra! E talvez "Deus passe a olhar para nós os escorpiões, com
tanto respeito como aos homens.”
E com o aguilhão, enterrou profundamente na areia, num
esconderijo ultra-secreto, as pedras preciosas mais belas.
Entretanto, o escorpião amarelo arrastava entre as patas o
seu magro tesouro: três rubis, cinco diamantes, sete safiras, um pouco de ouro
raspado de uma pedra. A colheita era escassa porque ele tinha passado muito
tempo a bronzear-se ao sol e, principalmente, a conversar com a raposa do
deserto e com todos os habitantes do deserto que por lá encontrou, para enganar
a solidão.
Chegada a hora de prestar contas, Deus chamou à sua presença
os dois escorpiões. O escorpião negro só entregou seis pedras. Eram pequeninas,
insignificantes e imperfeitas.
– Não encontrei mais nada, meu Senhor – mentiu o escorpião
negro. – O meu irmão amarelo andou muito depressa! Apanhou tudo antes de
mim!
Ao dizer aquilo, os seus olhos ficaram vermelhos e flamejantes como rubis, sinal de mentira e de hipocrisia.
Ao dizer aquilo, os seus olhos ficaram vermelhos e flamejantes como rubis, sinal de mentira e de hipocrisia.
Deus respondeu-lhe calmamente:
– Mentes! Guardaste todo o tesouro para ti! O que fizeste foi errado. Primeiro, porque mentiste. Depois, e acima de tudo, porque roubaste a riqueza dos homens. E por isso serás amaldiçoado! Quando vires um homem ou um animal, terás uma irresistível vontade de o picar com o teu aguilhão e, se o fizeres, irá mata-los.
– Mentes! Guardaste todo o tesouro para ti! O que fizeste foi errado. Primeiro, porque mentiste. Depois, e acima de tudo, porque roubaste a riqueza dos homens. E por isso serás amaldiçoado! Quando vires um homem ou um animal, terás uma irresistível vontade de o picar com o teu aguilhão e, se o fizeres, irá mata-los.
Deus virou-se em seguida para o escorpião amarelo:
– Quanto a ti, foste preguiçoso, passaste o tempo a enganar a solidão. É preciso ter coragem e saber suportar a fadiga e o isolamento para se encontrar tesouros. O teu aguilhão também picará, mas só provocará febre durante três dias e três noites.
– Quanto a ti, foste preguiçoso, passaste o tempo a enganar a solidão. É preciso ter coragem e saber suportar a fadiga e o isolamento para se encontrar tesouros. O teu aguilhão também picará, mas só provocará febre durante três dias e três noites.
A partir daquele dia, quando as pessoas veem um escorpião
negro, tentam sempre o esmagar e matar por causa do medo que lhes inspira.
Mas, quando veem um escorpião amarelo, sabem que este não faz tanto mal e não o incomodam. Afastam-se dele, deixando o mesmo sempre sozinho.
Mas, quando veem um escorpião amarelo, sabem que este não faz tanto mal e não o incomodam. Afastam-se dele, deixando o mesmo sempre sozinho.
Autor/fonte: desconhecida.