Páginas

..

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Por quê? Hã? Por quê?

Bom, acabo de acordar como acordo todos os dias, porem hoje algo estava diferente, olhei para os lados e tudo estava no mesmo lugar, minha mulher já havia acordado e ido trabalhar, mas algo estava diferente.

Me levantei, porem acabei caindo da cama, minha mão estava dormente, meus dedos não me obedeciam e o medo de não conseguir mexer mais minha mão tomou meu corpo, acho que todo mundo já passou por isso, dormir sobre o braço e acordar com ele mole e sem resposta, era uma situação ate engraçada de se passar e embora de começo fosse algo engraçado, após alguns minutos que nada voltava ao normal comecei a ficar desesperado, e se meu braço não voltasse ao normal? O que eu seria? Um deficiente? Isso não poderia acontecer, meu perfil de vida não suportaria esse tipo de dificuldade.

Com dificuldade me vesti, minha aparência talvez parecesse meio relaxada, pois obviamente não consegui me arrumar adequadamente com uma mão só e cheio de medo em meus pensamentos; e a cada movimento que eu fazia, menos eu sentia o meu braço e embora me esforçasse muito, cada vez menos meu braço me obedecia.

Hora de enfrentar a sociedade, sair de casa e buscar ajuda, todos os olhos pareciam voltados a mim e ao mesmo tempo ninguém parecia me olhar, era uma sensação horrível de  sentir, pensei em ligar para a minha esposa, mas ela iria correndo me encontrar e antes de saber o que estava acontecendo comigo eu não queria arrastar esse sofrimento para outra pessoa, ainda mais uma que eu amo.

Bati por três vezes na porta do Doutor Mathias, um médico idoso que há muito tempo atendia toda a minha família e que sabia todo o meu histórico medico, talvez ele pudesse me dizer o que estava acontecendo, porem por mais que eu batesse, ninguém vinha ao meu encontro, estavam me ignorando eu sei, ouvi vozes como se alguém conversasse sem nem ao menos se importar comigo, jamais faltei com educação ou fui rude a ponto de merecer ser ignorado; confesso que chorei e supliquei enquanto batia naquela porta que parecia de aço maciço, embora fosse uma porta antiga de madeira que visualmente quebraria com um leve soco meu.

Já era a hora de aceitar que eu tinha um problema que não era só meu, afinal eu era casado e companheirismo é para isso não é? Para nos ajudar? Estar la quando precisamos não é?      Deveria ser, mas por mais que eu ligasse para a minha esposa , o telefone apenas chamava, não dava a resposta que alguém fosse atender, e naquele momento meu desespero aumentou quando vi que um de meus dedos havia caído.

Fui para o meu emprego, meus amigos poderiam fazer algo por mim, mas para a minha surpresa a porta do prédio em que eu trabalhei por longos 20 anos estava fechada, por quê? Era uma segunda feira pelo que eu me lembrava, eu mal podia me atrasar em uma segunda dada à quantidade de trabalho, quem diria fechar o prédio todo; os prejuízos seriam incalculáveis, não havia uma razão que eu pensasse para o prédio estar fechado, tentei olhar pela janela, parecia ter varias e varias pessoas caminhando de um lado para o outro, mas porque as portas estariam fechadas? Porque novamente eu estava sendo ignorado? Sera que haviam percebido que eu estava doente a ponto de me isolarem?

Sem muitas respostas e em desespero, via meu braço cada vez mais parecer apodrecer, meus dedos estavam caindo e eu não podia fazer nada, ninguém me atendia ou queria me ajudar, eu estava sozinho desde que havia acordado, minha vergonha não me permitia parar nenhum estranho no meio da rua e o meu medo só me dava a ideia de ir a um local: MINHA CASA.

Entrei e depressivo fui para o meu quarto, como quem desiste de lutar em um afogamento e relaxa esperando a morte chegar, ao entrar no meu quarto lá estava a minha esposa dormindo, seu celular ao lado de sua cama com vários lenços caídos e uma garrafa de Wisk, mas ela não era de beber em um dia de segunda, ao me aproximar dela, meu braço caiu por inteiro, deste modo não consegui acordar ela para que ela me visse do modo que eu estava, eu era um doente e aquilo poderia passar pra ela, percebi que ela demonstrava em meio a murmúrios que seu braço estava doendo também, será que eu havia passado o que eu tinha a ela? Ela iria passar pelo mesmo sofrimento que eu estava passando? Iria me culpar por aquilo?

Sem saber o que fazer, nada fiz; fui covarde eu sei, sai do quarto sem nada dizer e fui em direção da sala, minhas fotos estavam todas caídas e a casa estava mais solitária e silenciosa do que nunca, as janelas estavam escuras e o clima de tristeza reinava naquela casa, percebi outras garrafas caídas pelo chão e cada vez mais a ideia de ter deixado a minha esposa sem resposta, no medo de mostrar como eu estava, também ignorei a dor pelo qual ela poderia estar passando, voltei ao quarto e novamente não consegui me aproximar da minha esposa, sentei ao seu lado e comecei a lhe pedir desculpas, e agora pude ver ela segurando um retrato meu, chorando enquanto dormia.

Minhas roupas estavam banhadas em sangue, e vi que o braço da minha mulher estava todo machucado e em seu dedo eu podia ver de forma clara duas alianças, a minha e a dela, por quê? Por quê? Eu nem havia percebido que tinha perdido aquele anel, justo eu que dava tanto valor a ele, porque teria dado esse anel a ela? Perguntas da qual eu não conseguia resposta alguma, perturbado com tudo aquilo, deitei ao seu lado e lá adormeci sozinho, naquela escuridão cada vez mais intensa enquanto mais um dia se acabava.

Bom, acabo de acordar como acordo todos os dias, porem hoje algo estava diferente, olhei para os lados e tudo estava no mesmo lugar, minha mulher já havia acordado e ido trabalhar, mas eu sabia que algo estava diferente...

Nenhum comentário: